quarta-feira, 29 de outubro de 2014

O moderno no clichê ♡

Weheartit
          Sábado, às sete e meia da noite. Estava deitada na minha cama lendo pela milésima vez o meu livro favorito e meu celular vibra. Numa situação normal eu terminaria o capítulo e só depois olharia a mensagem, mas nesses dias não. Eu sabia que a mensagem era dele. Era ele quem estava gastando o -lindo- tempo digitando algo para me enviar. Eu simplesmente não podia deixar de conferir. Marco a página, fecho o livro, pego o celular, desbloqueio, abro o Whatsapp. Ações rápidas que para mim pareciam demorar um século. “Ei, Rê! Tá ocupada?” Rá, nunca, se for pra você. “Queria saber se você pode me ajudar com a matéria de literatura. Tô completamente perdido, haha.” Até faço a prova por você, se quiser. OK, muita calma nessa hora, vamos responder como se você não estivesse super afim dele. “Tô ocupada não, Marcos! Posso te ajudar, mas não estudei ainda, você se importa?” Nossa, você realmente mandou isso? Socorro. “Tá tudo bem, Rê, por mim. A gente podia estudar juntos então, o que acha?” Como ele consegue ser tão fofo? ”Ótimo, vamos combinar!” Será que isso conta como um encontro? Não né? Ah. “Na verdade eu estava pensando em ir aí pra sua casa hoje, se você não tiver nada melhor pra fazer... porque a prova é na segunda e eu preciso muito dessa nota para não pegar a recuperação. =P” Para tudo. Ele está se oferecendo para vir aqui em casa?! Ou eu sou a garota mais sortuda do mundo ou a mais nerd da sala. Acho que é mais a segunda opção, mas enfim, digita logo antes que ele desista. “Claro! Não tenho nenhum plano para hoje. Pode vir agora mesmo, se quiser.” Mas e seu livro? A leitura dele é sagrada no sábado! Ah, deixa pra lá... Quando eu terei a oportunidade de “sair” com ele de novo? “Tá, vou só trocar a roupa e logo mais desço a rua. Valeu, Rê! Você é a melhor.” Melhor o quê, amiga, menina ou colega de estudos? Como garotos confundem a cabeça da gente, viu. Levanto da cama, dou um jeito na cara, passo o perfume e coloco o casaco que ele elogiou na aula de geografia. “Mãe, o Marcos vem aqui em casa estudar literatura comigo, tá? Por favor, mais tarde traz um lanche decente pra gente.” Ela responde qualquer coisa que eu não entendo. Por que a minha mãe tem mania de falar enquanto escova os dentes? Desnecessário. Campainha toca. Moramos na mesma rua, mas não sabia que tão perto assim, acho que gosto disso. “E aí, Marcos, pronto pra aprender tudo sobre o Modernismo?” “Ixi, Rê, não sei não, hahaha!” Essa risada dele um dia ainda me derrete toda.


          Nove horas da noite e eu ainda estou falando sobre a Semana de Arte Moderna. Meu Deus, Mario de Andrade, Tarsila do Amaral e a turma da esquina, me deem tempo de falar algo realmente relevante para nós dois. Fechamos o caderno, minha mãe resolve trazer um lanchinho: suco com cookies de chocolate, meus preferidos. “A Renata come uma caixa dessa inteira se deixar, e sozinha ainda por cima!” Valeu, mãe, agora sou a gorda. “Mas é bom que ela não engorda né, dona Silvia?” Bingo! Ele reparou que sou magra uma vez, pelo menos. Minha mãe me olha. Sei o que aquilo quer dizer: vai fundo, minha filha, que esse garoto aí eu aprovo. Céus, como ela sabe que eu gosto dele? Mães. Ela volta pra cozinha e logo depois pro computador. Eu e ele, sozinhos, de novo. Guardamos os cadernos uma hora depois. A matéria acabou e junto com ela o nosso “encontro”. “Você é muito boa em dar aulas, Rê! Com certeza vai ser uma ótima professora!” Aquele sorriso de novo. “Que nada, é só porque eu gosto dessa matéria mesmo. O importante é que vamos arrasar na prova segunda-feira.” Sorri. Ele sorriu. Quando vi, já estava presa em um abraço de muito-obrigado. Fecho a porta pensando quanto tempo vai demorar para ele perceber que eu me lembrarei desse abraço até o infinito e além. Sento na cama, pego o livro e não consigo ler. Dez e meia de um sábado à noite.

Texto por: Virgínia Brasil


PS: Fique a vontade para comentar e copiar trechos, apenas não se esqueça dos devidos créditos. Obrigada por ler e um grande beijo.

4 comentários:

  1. O melhor dos seus posts é que são de coração, ótimo texto.
    A expectativa sempre faz com que simples encontros se tornem um baile, e que noites de estudo seja melhor do que qualquer balada.

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    1. Muito obrigada, hahahaha! Sempre uso o coração, é a melhor fonte de inspiração... Mas vamos combinar, né, expectativa só é boa depois que passa o fato esperado, quando é excedida e superada; quando a gente cria e ela não vem, dá uma dorzinha lá no fundo, hihihihi. Um beijão, Rô! <3

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  2. Abiiiiga, super quero uma continuação! Fiquei curiosa e cheia de expectativas! (◕‿◕✿)

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    1. aaaawn, muito obrigada abiga! Fico feliz que tenha gostado! <3

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